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Hiperssexualização da figura feminina no esporte: Olimpíadas Tóquio 2020.

  • Foto do escritor: Projeto Entre
    Projeto Entre
  • 26 de ago. de 2021
  • 3 min de leitura

Não é novidade que há uma discrepância gigantesca entre os uniformes utilizados por homens e mulheres no esporte. A última edição das Olimpíadas (2020) — realizada em Tóquio — ficou marcada pelo posicionamento e protesto de diversas atletas contra a escolha dos uniformes femininos, levantando uma discussão mais do que necessária sobre machismo e a sexualização da figura feminina no esporte.


Por Gabriela Vasconcelos


Montagem: Vanessa Pinheiro.



Um dos episódios que ganhou bastante repercussão foi a atitude das ginastas alemãs que optaram por usar macacões ao invés dos tradicionais collants durante a apresentação. O uso dessa outra vestimenta é permitido pelas regras da competição, já que o macacão já foi utilizado em outras edições por questões religiosas, mas esta é a primeira vez que a peça é utilizada em prol de uma luta feminista. Elisabeth Seitz, uma das ginastas alemãs disse: “Queremos mostrar que todas as mulheres, qualquer uma, devem decidir o que usar”.


Outro caso que ganhou muita repercussão foi o da equipe norueguesa feminina de handebol de praia. As atletas queixaram-se que o biquíni restringia os movimentos, era desconfortável e as hiperssexualizava. Desse modo, antes da partida a Noruega entrou em contato com a Federação Internacional de Handebol solicitando que suas jogadoras pudessem utilizar uma alternativa ao biquíni, seu pedido foi negado e foram avisados que a mudança da vestimenta era passível de punição. Mesmo cientes de que estariam violando regras, as jogadoras decidiram usar shorts na disputa contra a Espanha, o que resultou no recebimento de uma multa de 1,5 mil euros (equivalente a R$ 9,2 mil) por se recusar a usar o uniforme padrão na competição.


A jornalista esportiva Renata Mendonça disse à BBC, “Todo esporte precisa de regras. O problema é quando temos um conjunto de regras só para mulheres”, isso porque os uniformes da equipe masculina são compostos por uma regata larga e shorts que quase chegam ao joelho. Renata ainda completou dizendo que “não há justificativa razoável para o biquíni. O esporte não vai mudar em nenhum aspecto caso as jogadoras possam jogar de bermuda — se algo mudar, será o fato de que elas vão se sentir mais confortáveis”.


Essa questão do uso de biquínis como uniforme para jogadoras também é recorrente no voleibol de praia. Em seu trabalho de conclusão de curso Thiago Mildemberg (2018) analisa como a mulher é objetificada pela televisão durante as competições. No capítulo dois, “O voleibol de praia feminino como esporte espetáculo”, Mildemberg cita uma pesquisa realizada por Bissel (2007) sobre os enquadramentos das câmeras escolhidos nas partidas realizadas durante os Jogos Olímpicos de Atenas (2004). Percebeu-se que partes como os seios e as nádegas das atletas ocupavam em grande maioria o espaço das imagens que estavam sendo televisionadas. Além disso, quando a equipe americana — composta por Kerri Walsh e Misty May-Treanor — venceu a partida contra a equipe brasileira, as atletas se abraçaram e caíram no chão uma por cima da outra em um ato de comemoração pela conquista de um título olímpico. O momento foi registrado e essa foi a imagem que viralizou e foi vista por milhares de espectadores, ao invés de qualquer outra imagem que mostrasse as atletas em ação de jogo durante a partida.


É de extrema importância que discussões relacionadas a esse tema sejam levantadas, e mais do que isso, que alterações sejam feitas ouvindo e levando em consideração o que as mulheres têm a dizer. Estamos em 2021, e atos machistas e sexistas não serão mais tolerados.





Referências:


MILDEMBERG, Thiago José Fantin. Voleibol de praia: a objetificação da mulher pela televisão. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2018.


Imagens:


Equipe de ginástica artística alemã usa macacão que cobre o corpo todo nas Olimpíadas de Tóquio. Fonte: Getty Images.

Seleção feminina de handebol de praia da Noruega. Fonte: Reprodução/Twitter.

Uniformes dos times masculino e feminino de handebol de praia são bem diferentes. Fonte: Niclas Dovsjö/Norwegian Handball Federation.

Walsh e May após a conquista do ouro em Atenas-2004. Fonte: GettyImages.




 
 
 

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